sábado, 15 de janeiro de 2011

ADEUS AO PERU

Estou saindo do Peru. Depois de uma semana em Cusco nos separamos, um para cada lado, na verdade dois para cada lado, o único sozinho sou eu.
Embarquei no ônibus das 19h para Arequipa para ver neve, vulcões e a Cordilheira dos Andes. Um conselho se for viajar de ônibus panorâmico nunca compre um dos quatro primeiros assentos, não há muito espaço para as pernas, a não ser que sua altura não ultrapasse 1,60mts. Foram dez horas de viagem ao lado de uma senhora muito mal humorada e cheia de sacolas.
Não consegui dormir imediatamente e o sono foi todo aos pedaços. Antes de pegar no sono assisti partes de um filme japonês que gostei muito, mas que não me lembro do nome agora. Acordei muito durante a viagem, mas não me lembro se o ônibus fez alguma parada para comer algo.
De manhã, lá pelas 5h, já enxergava um dos vulcões que cercam a cidade de Arequipa. Era possível vê-lo todo com o cume nevado, logo a frente mais um dos vulcões, de um total de três, apresentava seu cume embranquecido pela neve (não muita, está em pleno verão, mas alguma neve eles apresentavam).
Ao chegar em Arequipa logo se percebe o clima seco de um deserto (também percebi, pela primeira vez, que era o único estrangeiro dentro do ônibus). A cidade está localizada num vale cercado por uma enorme cadeia de montanhas desérticas, sem nenhuma árvore. Segundo a guia do passeio que realizei, a cidade conta com um milhão e meio de moradores, o que se torna perceptível ao passar pela periferia, igual a todas aquelas que os bolsões mais ricos gostam de esquecer.
Peguei um táxi (4 Soles) até a praça principal, Praça de Las Armas. Tudo ainda se encontrava fechado. Encontrei um bar que acabara de abrir e tomei um café com leite e comi um queijo quente por 7,50 soles (muito caro se comparado a Cusco). Andei pelas ruas quase desertas admirando os prédios e igrejas antigas, construídas por volta do século XVIII e XIX (segundo a guia a cidade data do século XVI).
Entrei em igrejas e andei pelas ruas fotografando os prédios, feitos de grandes blocos de pedra branca ou rosa (de acordo com a guia, granito). A partir das 7h, vi muitos estudantes dirigindo-se para as escolas e resolvi segui-los. Não encontrava uma escola pública, apenas particulares. Quando já havia desistido encontrei uma escola pública de primeiro grau, e entrei para conhecê-la. Apresentei-me como professor (aqui somos maestros) e conversei longamente com o diretor da escola. Descobri que um professor ganha por volta de 350 dólares, enquanto no Brasil ganhamos por volta de 800 dólares (mas o custo de vida no Brasil parece-me quatro vezes mais caro). Assim como no Brasil os professores também trabalham em mais de um turno e estão desacreditados. Os alunos presentes naquele momento estavam de recuperação, por não apresentarem um rendimento adequado durante o ano letivo.
Enquanto fotografava o convento de Santa Catalina, descobri que se realiza uma missa na capela. Eram 8h e a lindíssima e ornamentada capela estava cheia. Aproveitei para assistir a minha segunda missa no Peru. Como a capela faz parte do convento, as freiras que entoavam os cânticos encontravam-se separadas dos fíéis num espaço reservado somente para elas. A missa era em homenagem a beata Sor Ana de Los Angeles Monteagudo, a quem pedem sua canonização.
Após a missa, fiz um city tour pela cidade de duas horas (20 soles), à procura por um local onde pudesse observar os três vulcões que cercam a cidade (ir até eles é demorado e não teria este tempo). Quando cheguei a um mirante apropriado os cumes estavam cobertos de nuvens, o que impediu uma boa visualização para fotografias (fica a memória da chegada na cidade). O resto do passeio foi uma chatice.
Do passeio direto para a rodoviária, Arequipa não tinha mais nada a me mostrar e queria atravessar a Cordilheira sob o efeito do sol. De Arequipa a Tacna, (divisa entre Peru e Chile) mais 6 horas (novamente o único estrangeiro).
Logo na saída de Arequipa um fiscal entrou no ônibus e pediu para colocar o cinto de segurança. Além de demorar para sair, logo parou novamente para alguém descer. Sei que fará uma parada de um quarto de hora (dividem a hora em quartos e não em minutos como os brasileiros) a cada duas horas. Até agora a vista são montanhas desertas, somente com pedras e areia.
Primeira parada após uma hora de viagem. Vendedores (três) adentram ao ônibus vendendo comidas (milho cozido, sorvetes, doces) que os passageiros consomem naturalmente. Nem digo a cor das unhas e mãos. Esta cena se repete em todas as paradas.
Durante a viagem por morro e montanhas de pedras fiquei a conversar com alguns garotos que se encontravam no ônibus. Estavam encantados com o computador e com a filmadora. Fiquei a conversar com o Renato de nove anos, o mais velho de uma turma de quatro que viajava com os pais. Após algumas horas o sono alcançou a todos, pois a vista é somente de areia e pedra a perder de vista.
No meio dessa imagem lunar, às vezes encontra-se uma planta a resistir. Após 3h30 passamos por Moquegua, cidade anterior a Tacna. Antes de chegarmos à cidade o ônibus teve que parar. Todos tivemos que descer e toda a bagagem ser passar por uma máquina de raio-x, igual a dos aeroportos. É proibido passar pelo posto com qualquer fruta, a fim de evitar a contaminação dos pomares locais com algum tipo de mosquito.
Em Moquegua, o ônibus esvaziou e encheu novamente. Meu amigo Renato e sua família foram-se e eu voltei para algo que um dia já foi um mar. Entre as montanhas o sol se punha, para mim um por-do-sol diferente. Entre as montanhas um céu de cores variadas e fortes. 
Cheguei em Tacna por volta das 20h30. Pela primeira vez as pessoas não foram gentis em dar informações, comecei a ficar irritado por não saber corretamente como deveria proceder para sair dali. Não consegui pegar o último ônibus para Arica. Na verdade só havia lugar em pé e seriam mais duas horas de viagem. Poderia ir de táxi, mas a tarifa de 20 soles ou 3.000 pesos chilenos estava por 5.000 pesos (o ônibus custa 10 soles ou 1500 pesos chilenos). Decidi-me por dormir em Tacna, pois já estava cansado e precisava de um banho. Consegui um hotel na região central por 35 soles e por lá fiquei.

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