terça-feira, 4 de janeiro de 2011

CRÔNICAS RODRIGUEANAS IV

25, 26 – XII - 2010 d. C.
Santa Cruz à Sucre à Potósi

Saímos de Santa Cruz no período da tarde.
A descrição que se segue do percurso e do ônibus não possuem exageros, mas tão somente a descrição dos fatos.
Os bancos do ônibus tinham uma distancia muito pequena, nossos joelhos batiam no banco da frente, o que fez com doessem muito. Este ônibus foi construído com as especificações da altura media dos bolivianos, 1,60 metros. 
Ao sentar o Roberto e o Marcelo no banco da frente, estes viram que o painel de iluminação estava caindo, o Robertão dando um de Magaiver, pegou um rolo de fita crepe e colou o painel, gambiarra que não iria durar muito.
Logo de saída começou a chover. O ônibus tinha uma goteira bem encima da minha cabeça. Peguei um chiclete e tentei fazer um remendo, mas não adiantou, peguei um pedaço de fita crepe com o Roberto e fiz mais uma emenda. Logo a goteira se espalhou por todos os que se encontravam na janela do ônibus. Eu, Roberto e Fernanda ficamos com a metade do corpo molhado. Esse era só o início da viagem.
O ônibus tinha passageiros em todos os bancos, mas não era o suficiente para o motorista, começou a receber passageiros e os colocou no corredor do ônibus. Muitas das pessoas cheiravam muito mal, fediam.
Não entendi direito a situação, pois a viagem iria durar 17 horas e o ônibus não tinha banheiro e estava com uns 50 passageiros, um pau de arara desgraçado.
Uma parte da estrada era de terra, o ônibus mexia muito, os vidros trepidavam, dando a impressão que iam cair a qualquer momento. Como estávamos molhados a poeira começou a acentar em nosso corpo.
A primeira parada, já noite, foi num lugar muito sinistro, não é necessário a descrição, as fotos já dirão tudo.
A segunda parada foi no meio da estrada para fazermos necessidades no mato.
Uma senhora muito estranha, parecia uma figura saída de um desenho animado (aquela bruxa do desenho do pica pau), se abaixou em frente ao ônibus, bem as luzes do farol do ônibus, e começou a cagar. O Felipe ficou hipnotizado com a cena, não acreditava no que estava vendo, para conferir se não estava tendo uma miragem, resolveu conferir a bosta da velha, segundo este parecia uma bosta de cachorro, toda enroladinha. Pior foi que a velha nem se limpou e retornou ao ônibus.
Acreditem se quiser, a velha foi se sentar no corredor bem ao lado do Felipe, eu quase morri de rir. Logo aquele cheiro horrível começou a exalar. Lembrei das aulas de anatomia em que fazíamos uso de pasta dental para tentar amenizar o mau cheiro do formol. Peguei a pasta e passei um pouco embaixo do meu nariz. O Felipe gostou da ideia e também foi pegando a pasta. Mas o Felipe não entendeu direito como devia usar a pasta e foi colocando o tubo dentro da narina e apertando, rs. Aquilo foi queimando-o, ele foi enfiando papel higiênico tentando tirar o excesso, mas não adiantou muito. Acho que até os pelos do nariz chegaram a cair, rs.
Retornando a nossa querida velhinha porca, essa ficava caindo no corredor e puxava a perna do Felipe, na anciã de tentar se  equilibrar. Fiquei compadecido com o Felipe e trocamos de lugar, já estava vendo a hora que o Felipe iria dar uma porrada na velha (o Felipe acha que pegou sarna da velhinha).
O Felipe se arrepiou, sentiu uma mão sorrateira percorrendo o seu corpo, de repente ouviu uma voz cadavérica falando em seu ouvido: meu ninho, meu ninho, me possua. Nisso o Felipe se levantou gritando olhando em volta, sentiu alivio em ter tido um dos piores pesadelos de sua vida, rs.
Acordamos (na verdade quase não dormimos) em meio de um deserto, a estrada só tinha mão única, de terra, com precipícios, o motorista vinha a milhão, nas curvas o motorista ficava buzinando, alertando os possíveis veículos que vinham na direção contraria (quase não vi placas de transito, em sua maioria pediam que os motoristas buzinassem nas curvas), ficamos deveras amedrontados.
Lá pelas 7 horas a roda do ônibus saiu. Não estávamos acreditando...
Um carro de transporte de bois parou e ofereceu carona aos passageiros que se encontravam na beira da pista. O caminhão foi lotado para levar seus humanos-bois para um deslocamento de 2 horas. Preferimos ficar esperando o retorno do motorista com uma peça nova para consertar a roda. Resolvemos dar uma volta, eu e o Ed descemos um barranco em direção a um rio que corria bem próximo, tiramos ótimas fotos. O motorista retornou lá pelas 10 horas, concertou a roda e seguimos viagem, um pouco melhor pois, o ônibus estava mais vazio (a velhinha fedida continuou no ônibus, sentou no banco do André).
Ao chegarmos em Sucre lá pelas 14 horas, tivemos tempo de ir ao banheiro e comprar água e chocolate (Sucre é a cidade do chocolate), antes de seguirmos viagem até Potósi.
Conseguimos chegar em Potósi ainda com o sol a raiar, coisa de 18horas, resolvemos procurar um bom hotel, pois estávamos muito cansados. Potósi é a cidade mais alta do mundo e por isso alguns passaram mal com a altitude (enjôo, dores de cabeça e na musculatura) (com seus 4036 metros de altura). 
Como estava muito frio (14 oC), procuramos um lugar para comprar um vinho e comer alguma coisa quente. Não encontramos estabelecimentos que vendessem produtos com álcool (restaurantes, bares e até um bilhar não podiam vender), afinal encontramos uma lojinha ao lado do mercado municipal. Tomamos o vinho com o desejo de esquentar, um copo bastou por causa da altitude que nos deixou meio glogs. Comemos umas pizzas brotinhos e resolvemos dar um passeio na praça central e no mercado de roupas e mercadorias. Cansados resolvemos retornar ao hotel e descansar. A temperatura a noite estava em media duns 10 oC, mas a sensação térmica era menor. Experimentamos mastigar folha de coca e realmente alivia a dor de cabeça e a falta de ar.

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